16 de mai. de 2013

O golpe militar de 64 (II) - por Odilon Blank*

OPINIÃO - 02/04/2013

Uma revolução autêntica é a que cria leis que beneficiem as classes menos protegidas pelo poder econômico, que faça uma autêntica reforma agrária, distribuindo terras aos sem-terra, mesmo com o confisco de propriedades improdutivas, e que crie leis trabalhistas beneficiando os que trabalham e produzem os bens da nação, limitando os lucros das classes mais abastadas. E o que vimos após o 31 de março de 1964? Perseguição as sindicalistas, aos universitários (“cérebros” da nação), aos professores (idem), aos intelectuais (os mais temidos pelos regimes de opressão e retrocesso social), bem como aos jornalistas (como Wladimir Herzog) que não se venderam ao poder usurpador.

Todos sabem que os Estados Unidos só apoiam golpes de direita, que entrem em seu “esquema” de domínio do terceiro mundo. Apoiaram todas as ditaduras antipopulares da América Latina (Chile, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Brasil, Argentina, Haiti, etc) por terem sido movimentos que visaram apenas à defesa dos interesses de um pequeno grupo economicamente poderoso e das multinacionais, regredindo nas leis sociais e reformas necessárias.

Quem estudar a história universal verá que desde há séculos as classes sociais lutam, umas pra manter seus privilégios e outras para conquistar posições e melhores condições de vida. Já podemos ver, estudando a Revolução Francesa de 1789, que assim como há os grupos políticos progressistas, que desejam mudanças para melhor nas leis das nações, também existem os conservadores que são contra qualquer mudança que tire uma “lasquinha” de seus privilégios.

Sobre o “Movimento de 64”, que nada mais foi que outro dos muitos golpes militares na América Latina, teríamos muito que escrever, como por exemplo, no capítulo das torturas e dos “desaparecidos” que ficou como uma mancha negra na história do Brasil. Certamente daqui a séculos as futuras gerações lerão quase com descrédito as “proezas” dos generais e subalternos e seus crimes contra o povo; não entenderão como pessoas tão conservadoras uniram-se a grupos nacionais e internacionais a serviço do egoísmo, a fim de não permitirem que os despossuídos tivessem acesso a uma vida mais decente (e isto em nome das “tradições cristãs e democráticas”), como se não tivessem, todos os seres humanos, o direito de suprir suas necessidades básicas para sobreviver com dignidade.

Só o mais extremado egoísmo pode explicar os massacres ocorridos durante o regime militar, contra pessoas que, em geral, nem armas possuíam e apenas desejavam uma sociedade mais justa. Devemos ter muito cuidado para que a situação atual do Brasil não deteriore mais, dando chance para outros aventureiros reacionários fazerem nossa pátria regredir de novo aos tempos da repressão e arbítrio.


*Odilon Blank é professor e escritor - texto publicado originalmente no Riovale Jornal - http://www.riovalejornal.com.br

O golpe militar de 64 (I) - por Odilon Blank*

OPINIÃO - 28/03/2013

Na época em que ocorreu, o “Movimento de 64” foi intitulado por seus autores como “Revolução de 64” ou até como “Revolução Redentora” pelos mais simpáticos à quartelada. Seus adversários, os cidadãos que desejavam reformas sociais, já prementes naquele período, rotularam-na de “golpe militar”. Hoje, já longe, da época dos acontecimentos que se sucederam após 31 de março de 1964, podemos analisar os fatos com frieza e isenção de ânimos para chegarmos a uma conclusão sobre se foi uma revolução ou simples golpe militar conservador, visando a obstar o progresso social.

O que é uma revolução? Essa palavra tem sido empregada de modo a provocar confusões pois os contrarrevolucionários não gostam de ver-se como tal. Revolução é uma mudança drástica e violenta na estrutura social, existindo a “revolução democrática”, que postula modificações graduais e a “mudança revolucionária”, rápida e sem gradações.

Num golpe de Estado, civil ou militar, os seus agentes privam a nação da ordem legitimamente instituída (como ocorreu no Brasil) com o fim de defender os interesses de uma minoria egoísta e antinacional em detrimento das classes que produzem a riqueza. Procuram acobertar os fatos ocorridos com o uso da violência militar, da intimidação e da eliminação (“desaparecimentos”) dos que se opõem ao golpe (o que também ocorreu em nosso País). Procuram simular que a democracia continua, mas abolem o direito dos cidadãos pela força dos fuzis, sem o consentimento da maioria da nação e sem levar em conta as necessidades básicas de todos os segmentos sociais, anulando e submetendo a outra parte pela força bruta (o que também ocorreu no Brasil).

Foram defendidos os interesses do capital internacional (FMI, EUA e países interessados na “sucção” de nossas riquezas naturais e outras), bem como de parte da burguesia nacional (banqueiros, latifundiários e muitos industrialistas ligados aos interesses estrangeiros). Os banqueiros porque desejavam a continuidade do sistema que aprovava a agiotagem e os lucros astronômicos; os latifundiários porque reprovavam a ideia de qualquer espécie de reforma agrária que pusesse em risco enormes extensões de terras improdutivas então existentes.

O movimento rotulava-se de “anticomunista” e via em cada cidadão que não concordasse com o “terror do Estado” (prisões arbitrárias, torturas e desaparecimentos) em “perigoso subversivo”. Sua “afinidade” com as outras ditaduras de países vizinhos já é o suficiente para identificá-lo como fascista, ultraconservador e antirreformista.

*Odilon Blank é professor e escritor - texto publicado originalmente no Riovale Jornal - http://www.riovalejornal.com.br

2014: 50 anos do famigerado golpe militar


Ano que vem complemtamos os 50 anos do famigerado golpe militar de 1964. Depois de avanços políticos e sociais do Brasil, o Governo Jango foi apeado pela força bruta dos militares, escoltada pela camada reacionária da elite econômica do país e o apoio noret-americano, nutrindo-se da alienação e desinformação de grande parcela da população brasileira. Foram mais de duas décadas de censura, opressão, perseguições e variados descalabros, inclusive uma corrupção que até hoje não foi contabilizado, já que a transparência das relações político-econômicas (ou seja, envolvendo políticos do governo, empresários e outros personagen$) era praticamente inexistentes. Eis mais um balanço que precisa ser feito, assim como vários outros acertos com esqueletos no armário...

Vamos aproveitar para iniciar uma atualização deste blog, nascido para apoiar as atividades de "aniverário" do AI 5 aqui em Santa Cruz do Sul e região, transformando-o, agora, num instrumento de apoio a atividades "comemorativas" ou, melhor, "lamentativas". E também "superativas", no sentido de superação - com total consciência e justiça aos/dos acontecimentos do passado, a partir da deflagração do golpe.


Nas próximas postagens, vamos reproduzir dois textos do professor e escritor Odilon Blank, que "viveu na pele" o período, "os anos de chumbo", e tem há anos publicado textos na imprensa local muito interessantes e importantes para "não deixar esquecer" e, assim, colaborar para evitar retrocessos na vida democrática e da liberdade cidadã no Brasil.

4 de jan. de 2009

Matéria publica no Riovale Jornal em 09/12/2008

MEMÓRIA

Movimentos sociais lembram 40 anos do AI-5

Diversos eventos marcaram a passagem da data no município

*Alex Corrêa (reportagem e foto)

O dia 13 de dezembro de 1968 ficou marcado na história brasileira como ponto onde o governo militar, iniciado quatro anos antes com a deposição do presidente João Goulart, oficializou um regime violento e repressivo. Era promulgado o Ato Institucional número 5 (AI-5). Conforme o coordenador do curso de História da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Mozart Linhares da Silva, o AI-5 conferia ao presidente da República o direito de fechar o Congresso, reprimir as oposições, legislar sobre todas as matérias, suspender os direitos políticos de quaisquer cidadãos pelo prazo de dez anos, cassar mandatos, demitir, aposentar, restringir as liberdades individuais e suspender a garantia do Habeas-corpus. Além disso, a partir deste período, ocorreram perseguições políticas, prisões, tortura, desaparecimentos e mortes.

Para lembrar os 40 anos do AI-5, em Santa Cruz do Sul, foram realizadas diversas atividades. Na última quinta-feira, 4, no auditório da Secretaria Municipal de Educação e Cultura (Smec) ocorreu o painel “Visões da Ditadura”, com a presença do jornalista e cientista político Bruno Lima Rocha. Na ocasião, também foram relatadas experiências de pessoas que vivenciaram aquele momento político e houve o lançamento oficial do blog http://anosdechumboemsantacruz.blogspot.com. Na sexta-feira, 5, no Espaço Camarim, a Associação dos Amigos do Cinema apresentou o filme “Pra Frente Brasil” (1982), do diretor Roberto Farias. E no sábado, 6, ocorreu um ato político-cultural na Praça Getúlio Vargas, transmitido pela Rádio Comunitária, com apresentação da peça “Cale-se” dos grupos Os Arteiros e Contra-Senso, além da manifestação de movimentos sociais.A iniciativa dos eventos foi do Encontro Latino-Americano de Organizações Populares Autônomas (Elaopa). E a realização, da Articulação Memória 40 anos do AI-5 - Santa Cruz do Sul, contou com o apoio da Pró-reitoria de Extensão e Relações Comunitárias da Unisc (Proext/Unisc), Diretório Central de Estudantes (DCE) da Unisc, Diretório Acadêmico da Uergs, Cpers/Sindicato, Sindicato dos Professores Municipais (Sinprom), Grupo de Artistas Contra-senso, Grupo Teatral Arteiros, Rádio Comunitária, Sindicato dos Bancários Santa Cruz do Sul e Região, Amigos do Cinema, Resistência Popular e Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR).

O endurecimento

O governo Costa e Silva, de acordo com o professor Mozart, foi marcado por movimentos de contestação do regime. As manifestações públicas contra a ditadura se multiplicavam. Estudantes saíam às ruas em passeatas, operários organizaram greves e padres mais progressistas pregavam contra a fome, a miséria e as torturas. Também foi criada a Frente Ampla, por Carlos Lacerda, que no passado tinha apoiado o golpe na esperança de assumir o poder e agora era oposicionista. Para o jornalista Bruno Lima Rocha, o AI-5 foi uma medida de força que o regime militar tomou para responder ao crescente movimento popular.

A resposta ao AI-5, de acordo com Rocha, foi a anistia, que ocorreu de forma lenta, gradual e irrestrita. A distensão, para Mozart, ocorreu de forma cautelosa pelo regime. “Na realidade, como é de praxe na sociedade brasileira, como foi a abolição, por exemplo, esses processos são lentos e conservadores”. Para ele, a anistia é um reflexo da vitória do regime. “Uma solução que efetivamente transformou movimentos de contestação, na sua generalidade, em atos terroristas, equiparando-os a práticas como a tortura. A anistia absolveu torturadores”, afirma Mozart. Rocha faz parte de um movimento que defende a criminalização dos torturadores.

O regime militar, conforme o jornalista, tinha seu braço jurídico, político e operacional-repressivo. “E a ditadura não era composta somente por militares. E, hoje, com um governo supostamente de esquerda, nós temos ícones dos Anos de Chumbo em todos os escalões do governo federal. Quando se coloca uma composição política acima da tua crença, é uma derrota ideológica”, acredita.

13 de dez. de 2008

Triste "aniversário"

Exatamente hoje - 13 de dezembro de 2008 - se completam 40 anos de promulgação do Ato Institucional número 5, o AI-5, de tão triste memória.

Todo nosso esforço é para que situações como essa desencadeada no Brasil, com apoio de forças reacionárias e truculentas, não se repitam.

Lembrar é reavivar uma ação constante pela cultura democrática e dos direitos humanos, ampliando-se cada vez mais.

8 de dez. de 2008

Blog com textos de alunos - Exercício: "Há 40 anos no Brasil, no tempo da ditadura"

Olá amigos,

No dia 13 de Dezembro deste ano completam 40 anos do fato mais brutal da ditadura militar brasileira, com a decretação do Ato Institucional n°5 (AI-5) em 1968, e a Professora Neusa, aproveitando o fato de estar ensinando esta período da história brasileira para a 8ª série, propos uma atividade, que consiste nos alunos imaginarem que tivessem vivendo este momento e escrever um texto. Devido a qualidade dos textos ela pediu para que eu criasse um blog onde este materil fosse publicado. Então lá vai o enderecço:

http//:profeneusa.blogspot.com

Antelmo Stoelbenn -
santelmos@gmail.com

1 de dez. de 2008

Participe!




Em dezembro, mês em que o momento mais brutal da ditadura militar brasileira completa 40 anos, com a decretação do Ato Institucional n° 5 (AI-5) em 1968, convidamos a uma reflexão sobre o que representa para nós hoje em dia este triste período da nossa história. Essa é uma página virada, ou ainda sofremos as conseqüências da maneira concluímos esse capítulo?

Abordando com as mais diferentes linguagens - palestras, debates, vídeos, teatro, artes plásticas e ato de rua -, queremos fazer este embate com nosso passado, mas também com nosso presente, para, quem sabe, termos outro futuro, com mais justiça, onde os exploradores, repressores e torturadores estejam, definitivamente, presos no seu devido lugar: o passado.

A iniciativa, que acontece também em Porto Alegre e outros municípios do RS, é do ELAOPA - Encontro Latino-Americano de Organizações Populares Autônomas, com a participação de entidades sociais de Santa Cruz do Sul, que organizam as atividades.

PROGRAMAÇÃO

4/12 – Quinta-feira

Painel de Debates: "Visões da Ditadura"
Local: Auditório da SMEC
Horário: 20h às 22h30min
Palestrante: Bruno Lima Rocha (jornalista e cientista social, militante político-social)
Depoimentos de quem viveu os anos de chumbo na região
Lançamento do site "Anos de Chumbo em Santa Cruz do Sul: Memórias"

5/12 – Sexta-feira

Cine-debate: "Pra Frente Brasil", do Diretor Roberto Farias (1982)
Local: Espaço Camarim
Horário: se no Camarim: 21h

6/12 – Sábado

Ato Público Político-cultural
Local: Praça Getúlio Vargas
Horário: A partir das 9h
Esquete do Grupo Teatral Arteiros
Painel Artístico com o Grupo Contra-Senso
Falas dos Movimentos Sociais e organizações participantes
Trasmissão pela Rádio Comunitária de Santa Cruz do Sul

Iniciativa: ELAOPA - Encontro Latino-Americano de Organizações Populares Autônomas

Realização: Articulação Memória 40 anos do AI5 - Santa Cruz do Sul

Organizações que participam da articulação:

- Proext/Unisc
- DCE Unisc
- DA Uergs/Unidade Santa Cruz
- Cpers
- Sinprom
- Grupo de Artistas Contra-senso
- Grupo Teatral Arteiros
- Rádio Comunitária
- Sindicato dos Bancários Santa Cruz do Sul
- Amigos do Cinema
- Resistência Popular
- MNCR (Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis)